Mais um conto.
A RUA
Um homem vinha andando pela rua. Era uma rua escura, mal iluminda, digamos assim, silenciosa, deserta. Só que o homem era daqueles que não se intimidam por qualquer coisa. Além do que, ele passava por aquela rua duas vezes por dia; para ir ao trabalho e para voltar para casa. Mas havia algo de diferente na rua hoje. Sei lá, o ar, a aparência. Poderia ser também o simples fato de que ela estava completamente deserta (com bastante ênfase no completamente). Mas por mais deserta que fosse a rua, sempre havia um ou dois mendigos bêbedos largados em suas calçadas.
O homem sentiu algo pela primeira vez (não na vida, mas ao atravessar aquela rua). Medo. Ele respirou fundo, fechou os olhos e foi decidido. Tinha que cruzá-la se quisesse chegar em casa. Lá pelo meio da rua, quando já estava mais tranqüilo, o homem ouviu, ou pensou ter ouvido, algo que o deixou preocupado. Passos! Estava sendo seguido! Mas por quem? A rua estava deserta. Pelo menos no início parecia estar. Bom, pode ser um transeunte, ele pensou, até mesmo um bêbedo. Quem sabe ... um ladrão? Um assassino? Agora acabou de vez, ele ficou apavorado, não sabia o que fazer. Suas pernas estavam falhando e querendo correr desordenadamente ao mesmo tempo. Apesar do terror que o dominava, o homem estava querendo se convencer de que não era nada demais. Mas, por mais que quisesse olhar para trás e acabar com essa situação toda de uma vez, não encontrava forças. Então ele viu. Olhando de rabo de olho para o lado, viu uma sombra além da sua no muro à esquerda. E decidiu andar mais rápido. E mais rápido. O mais rápido que conseguisse sem correr. O quanto antes saísse dali, melhor.
Chegou ao fim da rua. De repente, o homem se sentiu melhor, aliviado, e com músculos suficientes para poder se virar. E se virou. E o que viu fez com que sentisse vontade de dar uma enorme gargalhada. Um cachorro, que passou direto por ele, sem lhe dar a mínima. As sombras que havia visto eram suas, assim deduziu, projetadas por duas lâmpadas diferentes de um mesmo poste. Tranqüilo, renovado, ele riu. E ouviu um riso às suas costas e uma voz que disse apenas:
- Atrás de você!
Kadu, o Castro (sem Alves).